O avião de caça mais sofisticado da Rússia, o Sukhoi Su-57, fez sua estreia em combate na guerra da Ucrânia.
Um vídeo surgiu com o ataque do avião a uma ponte sobre o rio Teteriv, perto de Jitomir, cidade 140 km a leste de Kiev sob assédio das forças de Vladimir Putin. A pedido da Folha de S.Paulo, três analistas militares russos o analisaram e disseram que se trata da primeira imagem registrada de um Su-57 em combate.
A ação ocorreu em algum dia de sábado (5) a quarta (9). A silhueta característica do avião, desenhado para ser furtivo aos radares, é clara. O armamento para o ataque em solo, não, mas parecem bombas de queda livre.
É um risco que Moscou corre. Só há três Su-57 operacionais hoje, além de outros 11 protótipos que cumprem uma atabalhoada campanha de testes desde o primeiro voo do avião, em 2010. O primeiro modelo para uso teve uma falha e espatifou-se antes da entrega, em 2019. O custo unitário é insondável, mas especula-se que modelos de exportação saiam por US$ 40 milhões.
Em 2017, dois protótipos foram enviados à Síria para testes, mas, segundo especialistas, nunca deram um tiro ou dispararam mísseis e foguetes ar-solo. Naquele teatro de operações, diferentemente do da Ucrânia, também não havia riscos de ataques com mísseis antiaéreos.
A Rússia encomendou 76 desses aviões, que enfrentam problema com o desenvolvimento de novos motores. Segundo observadores ocidentais, eles são caças da chamada quinta geração, ou seja, possuem características de desenho e uso de materiais que os ajudam a fugir de radares, podem manter voo supersônico constante e possuem unidades de fusão de dados avançadas.
Eles afirmam que o Su-57 é menos furtivo do que os originais americanos, o F-22 Raptor e o F-35 Lightning-2, embora seja mais manobrável.
Enquanto os novos caças multimissão não vêm, o mais moderno modelo à disposição dos russos é o Su-35S, que também fez sua estreia em combate na Ucrânia. Não há dados precisos, mas relatos de que eles já abateram uma quantidade não revelada dos caças Su-27 e MiG-29, além do avião de ataque ao solo Su-25.
Sobre Jitomir houve um embate raro, entre Su-35S e Su-27, que são o modelo soviético original da família conhecida no Ocidente pela designação Flanker, do qual a versão russa é a mais recente. Os russos operavam antes da guerra 94 deles, ante 34 Su-27 dos ucranianos.
Houve reveses, também. Além de relatos não confirmados do abate de modelos Su-30, há pelo menos dois bombardeiros táticos Su-34 que foram derrubados por mísseis antiaéreos de Kiev. Os modelos são uma das joias do arsenal de Vladimir Putin, usados amplamente na menos ameaçadora Síria.
Do outro lado da guerra aérea, a Rússia também viu em ação pela primeira vez sua temida bateria S-400, um de seus mais vistosos produtos de exportação. Enquanto mobilizava quase 200 mil soldados para a ação contra Kiev, Putin deslocou talvez seis dessas baterias para a fronteira da Belarus com a Ucrânia.
Famosa por poder monitorar até 80 alvos ao mesmo tempo, a S-400 pode ter até 400 km de alcance a depender do míssil que empregar. Usualmente, fica nos 250 km do míssil 48N6, e com isso cobre facilmente Kiev -a cerca de 150 km de suas posições presumidas.
Em 25 de fevereiro, um dia depois do início da invasão russa, uma dessas armas derrubou sobre os céus da capital ucraniana o Su-27 ocupado pelo notório Oleksandr Oksatchenko, um dos mais famosos pilotos militares de testes do país, figura fácil em shows aéreos no Ocidente.
Ele tinha 53 anos, o que diz algo sobre a disponibilidade de aviadores para o governo de Volodimir Zelenski, que o condecorou postumamente como herói da Ucrânia. O emprego da S-400 foi confirmado por diversas fontes ucranianas e russas e, se confirmada a distância de 150 km, terá sido um dos mais distantes abates com mísseis solo-ar da história.
Como o Su-57, ele foi levado para a Síria, onde protege a base aérea russa de Hmeimim, mas não há notícia de que tenha sido usado. Ali, ele busca coletar informações de potenciais modelos adversários com seu radar, como os F-35 israelenses -Tel Aviv, aliás, confirmou na semana passada o primeiro abate feito pelo avião de quinta geração, de dois drones iranianos, ocorrido em 2021.
As S-400 estiveram no centro de uma polêmica quando a Turquia, membro da Otan (aliança militar ocidental), resolveu comprá-las de Putin em 2017. Àquela altura, Ancara era participante do consórcio liderado pelos EUA para construir o F-35, e Washington alegou que operar ambos os armamentos no mesmo ambiente permitiria aos russos saber as vulnerabilidades do caça americano.
Claro, isso supunha que os turcos colaborassem com os russos, e o clima azedou. Ao fim, a Turquia foi expulsa do programa do F-35 e está operando suas S-400. A Índia, tradicional compradora de armas russas apesar do alinhamento recente com os EUA para conter a China no âmbito do grupo Quad, também deverá receber seus modelos do tipo.
A Turquia sofreu algumas sanções, e é previsível que Nova Déli também as terá. A China começou a receber suas baterias, que custam cerca de US$ 300 milhões cada uma, em 2018, e a ditadura da Belarus quer ficar com algumas.